terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Inspiração da graça


Acontece, por vezes, que a estrela desaparece dos nossos olhos. Quer a inspiração da graça traga em si um carácter extraordinário, como no caso dos Magos, quer se prenda (e é para nós o caso mais frequente) à providencia sobrenatural de todos os dias, a estrela deixa, por vezes, de se manifestar; vela-se a luz; a alma mergulha nas trevas espirituais. Que fazer então?

Vejamos como procederam os Magos nesta ocorrência. A estrela só se lhes mostrou no Oriente; depois desapareceu: ​​Vidimus stellam ejus in Oriente. Ao revelar-lhes o nascimento do Rei dos Ju- deus, não lhes indicara o astro maravilhoso o lugar preciso onde poderiam encontrá-lo. Que fazer? Dirigiram-se para Jerusalém, capital da Judeia metrópole da religião judaica. Onde melhor do que na cidade santa poderão eles encontrar o que procuram?

Assim também, quando a nossa estrela desaparece, quando a inspiração divina não indica com exatidão o que temos a fazer e nos deixa na incerteza, Deus quer que recorramos à Igreja, aos que o representam entre nós, para que eles nos tracem a rota a seguir. É a economia da Providência divina. Deus quer que a alma, nas dúvidas e dificuldades da sua ascensão para Jesus Cristo, implore luz e direção daqueles que estabeleceu como Seus representantes junto de nós: ​​Qui vos audit, me audit. Vede Saulo na estrada de Damasco. Ao chamamento de Jesus, exclama imediatamente: «Senhor que quereis que eu faça? » Que lhe responde Jesus Cristo? Em vez de lhe dar a conhecer diretamente a Sua vontade, dirige-o para os Seus representantes: «Entra na cidade e lá te será dito por outrem o que deves fazer».

Submetendo as aspirações de nossas almas à direção dos que têm a graça e a missão de nos guiar na busca e consecução da união divina, não corremos nenhum risco de nos transviarmos, quaisquer que sejam os merecimentos pessoais daqueles que nos dirigem. Na época em que os Magos chegaram a Jerusalém, a assembleia dos que tinham autoridade para interpretar as Sagradas Escrituras era em grande parte constituída por elementos indignos; e, no entanto, Deus quis que fosse por ministério e ensinamento destes que os Magos soubessem oficialmente do lugar onde nascera Jesus Cristo. Com efeito, Deus não pode permitir que a alma seja enganada, quando, com humildade e confiança, se dirige aos legítimos representantes da Sua soberana autoridade.

Muito pelo contrário, ela tornará a encontrar a luz e a paz. Como os Magos ao sair de Jerusalém, a alma verá de novo a estrela resplandecente de brilho e, a exemplo deles, seguirá, cheia de alegria, o seu caminho: ​​Videntes autem stellam, gavisi sunt gaudio magno valde​​.


​Extraído de "​Jesus Cristo nos seus mistérios" - ​Dom Columba Marmion​.

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